Seria o fim de testes em animais no país?
Ainda não: "É um processo de transição. Desde 1938, o teste de cosméticos em animais era obrigatório no mundo inteiro, algo que foi mudando com o passar das décadas, e o primeiro passo sempre foi derrubar esta obrigatoriedade", explica Carlos Praes, responsável por pesquisa e desenvolvimento da Sallve. "Depois passou a se tornar obrigatório não testar em animais em alguns países (ou em estados americanos, como a Califórnia). Essa proibição deve alcançar todo o mundo eventualmente. Na China, por enquanto, ainda estamos no primeiro processo de transição para o fim absoluto dos testes em animais no país."
"Pense em produtos finalizados, como paletas de sombras ou pó compacto. Quando chegam na China, eles precisam ser testados em animais antes de serem comercializados nas lojas do país - mesmo que a marca já tenha feito todos os testes anteriormente", explica Julia Petit, sobre o mercado de cosméticos chinês. "Para qualquer país que você queira exportar seu produto cosmético, o órgão regulador local analisa seu produto antes de comercializá-lo. A China faz testes físicos em animais. Aqui no Brasil por exemplo, a Anvisa analisa a lista de ingredientes, e até testa o produto, mas não em animais", completa.
A importância do mercado chinês
Para muitas marcas, abrir mão do mercado chinês é impensável: afinal de contas, ele é avaliado em US$ 33 bilhões. Sendo assim, mesmo que elas não testem em animais em seus laboratórios próprios, elas acabavam se dobrando às políticas de importação da China. Quando o fim desta obrigatoriedade de testes em animais para que cosméticos sejam comercializados na China finalmente chegar, muitas marcas que já não testavam passam a ser elegíveis para estampar o selo de cruelty-free em suas embalagens. "Muitas empresas já não testam mais. As que testam ainda usam métodos muito antigos, já que hoje em dia há diversas alternativas para este tipo de prática. A questão é mesmo essa obrigatoriedade em laboratórios chineses", esclarece Julia.
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Qual é o impacto do fim da obrigatoriedade no futuro?
Para Julia, o passo é importante para um futuro em que os testes em animais sejam completamente banidos da indústria de cosméticos: "O mercado chinês é a última desculpa para justificar testes. As marcas que ainda testam acabam se apoiando nesta justificativa da China, usando isso como desculpa para não olhar para sua própria cadeia de produção. Tirando essa obrigatoriedade, não há mais qualquer justificativa científica para testar cosméticos em animais".
Outro impacto importante na indústria de cosméticos é que agora o mercado chinês, tão poderoso, abre suas portas linhas crueltyfree locais, já em sintonia com a demanda mundial.
A ONG internacional de direitos dos animais CrueltyFreeInternational comemorou o "passo importante" para o fim de testes em animais no mundo inteiro: "Essa garantia das autoridades chinesas de que os testes em animais não são mais uma prática normal para produtos cosméticos nacionais é um passo gigantesco na direção certa, e muitíssimo bem-vindo".
A decisão da China vem na cola do posicionamento da Austrália no começo deste ano. A nova lei local rejeita qualquer teste em animal como evidência de segurança de um produto para uso, forçando todas as marcas a desenvolverem outros métodos. A União Europeia, por sua vez, baniu os testes em animais de seus territórios desde 2013, enquanto aqui no Brasil sete estados já proibiram a prática e um projeto de lei está em processo na câmara legislativa.
Apenas o primeiro passo
É preciso manter em mente porém que este é apenas um passo, e outras circunstâncias de mercado ainda podem exigir testes em animais de cosméticos já comercializados na China, como por exemplo reclamações de consumidores, e para Carlos Praes, a iniciativa é meramente comercial: "Eles estão querendo sentir o mercado. Ao mesmo tempo, se produzir na China não exige mais testes em animais mas exportar para o país sim, isso pode atingir gigantes do mercado de cosméticos, que andam se movimentando para tirar suas fábricas do país para atrair consumidores. É muito mais uma barreira comercial do que algo ideológico, humanitário ou científico."
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